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Como voar sem sair do lugar?



Não. Não é mais uma dica, sugestão ou recomendação de como produzir e ter sucesso nos negócios na quarentena. Ou sobre como não sucumbir financeiramente em tempos de pandemia. Esse texto diz muito sobre as minhas percepções e limitações durante este período. E, talvez, você possa se identificar.

Não se trata de como você deve reagir aos acontecimentos, mas de como você poderia refletir, sentir e agir. E voar, quem sabe?

Passado o primeiro mês da quarentena, começo a sentir muitas dores nas costas. Dores intensas. Como diria uma amiga, parecia carregar uma jamanta nas costas. Ou mais de uma jamanta, a considerar o seu peso.

Também começo a me dar conta do quanto tempo já passou e do quanto eu consegui, até aqui, seguir com um certo equilíbrio.

Mas como não sou de ferro, sou um ser humano como todos os terráqueos que aqui estão a estagiar, meu corpo físico sente. Sente a impossibilidade de não pode voar.

Seria a dor da evolução? Ou a dor da sobrecarga?

São tantas as recomendações, através de textos, vídeos, matérias, sem contar as inúmeras lives que acontecem diariamente. Muitas são excelentes, mas, no fundo, em sua maioria, implanta-se uma cobrança acortinada do fazer, fazer e fazer. Do estar bem, porque está tudo bem. Do produzir. Do ganhar dinheiro. Do não desistir. Sim. Não podemos parar.

E o amanhã? Como iremos pagar as nossas contas, comer ou ter o mínimo para sobreviver?

Voltando às dores nas costas, ‘acordei’ e vi que não consigo voar, minha energia está acumulada e por isso as dores físicas. São as dores de não poder levantar voo. Minhas asas estão atrofiadas.

Foi numa troca de mensagens com uma amiga, e posteriormente, com a minha mãe, que elas me abriram os olhos para enxergar as asas atrofiadas: “Pri, as dores podem ser tuas asas. Estás em evolução”, disse a minha amiga, Giseli. “Filha, é muita energia acumulada”, disse a minha mãe. Isso é sincronicidade.

Quando temos uma rede de pessoas que vibram na mesma sintonia, as energias se conversam. E acontecem as sincronias.


Mas quando desviamos e seguimos a manada com uma enxurrada de informações desnecessárias, dos novos especialistas, dos julgamentos, da busca pelos culpados, as energias vibram contrariamente.

São tantas informações. De repente viramos especialistas em saúde, política, marketing, futurismo...

Todos querem prever o futuro. Imaginar como será o amanhã.

Não sabemos!

O que seria o “novo normal”? O normal anterior à pandemia era normal?

O que é normal? O “novo normal” não existe.

O que existe é um universo de incertezas.

Que tal se, em vez de tentarmos ficar adivinhando como será o futuro, nos contentarmos com o agora?


Parece clichê? Sim. Mas é o mais próximo do real. É o mais próximo da consciência.

Acredito que sairemos dessa, seres melhores. Porém, não melhor para o outro, para o externo, melhor para nós mesmos. A única forma de melhorarmos é olhando para dentro. É acessando a consciência.

Entenda as suas percepções e os seus limites. Não se condene por não conseguir criar, produzir. Não entre na onda do: “precisamos ser criativos”.

Não deixe que o outro te condene!

Não permita que a rede social te condene com tantas sugestões de como você deve agir neste momento, e você se culpa e se cobra por não conseguir fazer daquele jeito.

Não!

Nessa minha trajetória na busca da espiritualidade, intensificada com a maternidade, e agora, ancorada no meu lar, me dei conta que produzir para mim é estar no meu estado de presença, não importa o que eu esteja fazendo. Um banho consciente é produtividade. Uma meditação de 5 minutos é produtividade.

Me dei conta que necessito ao menos de 1 hora comigo por dia, com minha mente e com meu corpo, com meus pensamentos. Sem isso não consigo fluir. Não consigo criar. Meu corpo necessita do alongamento diário para que o fluxo do dia siga como tem que ser.

Não dá para forçar a criatividade. Tem que ser algo espontâneo. E a espontaneidade só vem com a autenticidade de Ser.

Não se prenda à produtividade cartesiana.

Entender os nossos sentimentos diários, em meio a essa pandemia, não é algo inédito para mim, pois já caminhava nesta jornada há algum tempo, mas, se torna novo a cada dia, pois numa pandemia, mais sentimentos afloram. No isolamento, mais sentimentos se misturam. O desafio é constante.

As pausas diárias são necessárias. Aqui em casa são desafiantes. Quem tem filho pequeno, vai entender.

Porém, com parceria e comunicação a gente chega a um acordo, revezamento entre as atividades domésticas, trabalho, educação/atenção/brincar com o filho, tempo individual, é fundamental para que se mantenha a harmonia no dia a dia.

Claro que não é tão simples como se parece, pois orquestrar tudo isso em poucos metros quadrados não é fácil, ainda mais quando ambos, o casal, trabalha com o mental, bem como, ambos gostam de ter o seu tempo privado.


Se não fosse a minha caminhada espiritual de alguns anos até aqui, talvez fosse mais difícil os tempos atuais. Talvez eu não tivesse percebido que as dores nas costas estariam ligadas aos voos interrompidos.

E como tenho feito para voar?

Medito, ouço mantras e imagino minhas asas me guiado mundo a fora.

Encontre o seu jeito de voar.

“Paciência – Aprender que tudo tem seu tempo. Que tudo vem a seu tempo. Dar o tempo necessário. Para crescer. Brotar. Florescer. Aceitar o ciclo da vida. Respeitar o fluxo do tempo. Observar o tempo passar. Esperar o tempo certo (o seu tempo). Pra plantar. Pra colher. Pra agir. Pra seguir. Pra aprender.”

Priscylla Spencêr

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