*artigo com spoilers
Cá estou eu mapeando mais um filme turco que me encantou e tenho certeza que está agradando muitos brasileiros.
Também disponível na Netflix, Sadece Sen, que em português significa “Somente Você”, é um romance com uma boa dose de drama antes do seu desfecho.
Diferentemente de Milagre na Cela 7, que divide o andamento da trama entre vários personagens, Sadece Sen centra foco na dupla Ali e Hazal, com poucos coadjuvantes no seu entorno.
Mas, assim como a história ambientada na prisão turca, o romance permite refletir sobre angústias do nosso cotidiano.
Queremos a generosidade e resiliência de Hazal, uma moça cega, que mesmo presa na ‘escuridão visual’, com as privações e provações de sua vida, mantém o coração puro e cheio de esperança.
Queremos o comprometimento de Ali, um ex-pugilista que deixou os ringues para realizar trabalhos ilegais para um agiota. Porém, depois de um serviço que acabou dando errado e obrigando-o a ir longe demais, ele decide sair da vida do crime e viver uma vida simples e honesta, dividindo-se entre dois empregos: o de entregador de água de manhã e vigia de um estacionamento à noite.
Queremos que todos se curem e que logo a gente possa estar isolados apenas por opção própria, como dois namorados em uma praia deserta.
Queremos a empatia dos outros.
Mas será que estamos nos colocando no lugar dos que não tem um teto para se isolar e se proteger dos riscos da enfermidade?
No emprego noturno, Ali conhece Hazal, que costumava visitar o estacionamento todas as noites para assistir TV com o antigo vigia. Aos poucos estes dois vão criando uma amizade, embora sejam dois opostos.
Ali e Hazal acabam se apaixonando, mas a vida e o destino podem criar obstáculos para que este amor seja afetado de forma irreversível.
Mesmos com as adversidades, o amor construído entre Ali e Hazal transborda a esperança da união baseada na confiança e na empatia. No poder de se colocar no lugar do outro.
Uma cena que me chamou a atenção é quando Ali coloca uma venda nos olhos e percebe os obstáculos que Hazal enfrenta no seu dia a dia dentro de sua casa: ponta da mesa, degrau, batente alto do quarto... Ao perceber as dificuldades de locomoção de Hazal, ele facilita seu dia a dia, arrumando tudo que é possível para que ela tenha uma rotina sem tombos, tropeço e acidentes domésticos.
O filme também mostra de forma muito clara que nada é por acaso. Os destinos de Ali e Hazal pareciam estar entrelaçados. Eles se encontram e se desencontram em momentos inesperados, mas ao mesmo tempo, parece tudo já ter sido desenhado.
Para quem é espiritualista e acredita em vidas passadas, o resgate existente entre eles parece estar evidente, quando de forma indireta, Ali causa a morte dos pais de Hazal, no passado. E por amor a Hazal e talvez como autopunição por se sentir responsável pelas perdas de Hazal, Ali decide dar sua vida para que Hazal volte a vez a luz.
Amor, resiliência, confiança, empatia, perdão, são os valores presentes na obra, que de certa forma se assemelha aos valores necessários para a nossa transformação neste período de isolamento social.
O amor verdadeiro enxerga com o coração e não com os olhos da mente.
Mesmo sob a escuridão, Hazal enxergou a luz através do amor que sentia por Ali.
A tartaruga que aparece no filme representa a paciência. O tempo é o senhor dos acontecimentos.
As pedras, que o casal tem escolhidas na praia por Ali a pedido de Hazal, além de serem para ambos uma forma de lembrança daquele momento, simbolizam a força. Força necessária para ambos enfrentarem as inconstâncias da vida.
Sem mais spoillers, deixo para vocês mapearem mais valores e sentimentos no filme.
Ah! Esqueci de comentar, prepare-se para derramar rios de lágrimas.
E como disse no mapeamento do filme o milagre na cela 7, aproveite a oportunidade para chorar tudo que está segurando nesta quarentena.
Priscylla Spencêr
Especialista em Facilitar Transformações, entusiasta nos assuntos sobre a relação humana e autoconhecimento e especialista em mapear processos e sentimentos.
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